Mobiliário do periodo D. João V e D. José na colecção da Casa-Museu Medeiros e Almeida
Carvalho, Cristina
Mestre em Artes Decorativas, Licenciada em Ciências Históricas, Conservadora da Casa-Museu Medeiros e Almeida. Lisboa, Portugal
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Etiquetas/Tags: Tipologías, Técnicas artísticas, Materialidad, Catalogación, Relaciones estéticas
A colecção de artes decorativas criada por António Medeiros e Almeida (1895-1986), ao longo da sua vida, é constituída por um eclético acervo que inclui cerâmica da China, têxteis, pratas, relógios, pintura, escultura, leques e mobiliário.
Medeiros e Almeida foi um empresário, colecionador e filantropo português, que, em 1972, legou ao país toda a sua coleção, criando uma Casa-Museu, em Lisboa, gerida por uma fundação com o seu nome.
Nesta apresentação, pretendemos dar a conhecer algumas das peças de mobiliário português que a integram, nomeadamente as do período dos reis D. João V (r. 1706- 1750) e D. José I (r. 1750-1777).
Do primeiro período, possui o acervo, um par de cómodas de formas acentuadamente ondulantes, em nogueira com decoração entalhada e dourada e tampo de mármore, que reflete as exuberantes características barrocas do mobiliário português do reinado do Magnânimo, no qual as influências francesas, inglesas, mas também de Roma, estiveram sempre presentes. Transpostas para uma realidade em menor escala, não deixaram, contudo, de ser monumentais no exagero das formas recorrendo à decoração em talha volumosa frequentemente dourada, refletindo desta forma a ostentação, característica das elites neste período. Do tempo do D. José, integram a colecção exemplares diversificados: uma papeleira em nogueira, uma mesa de 4 tampos, uma espreguiçadeira, uma mesa de encostar, variadas tipologias de móveis de assento e ainda um par de mesas de centro, todos em pau-santo. Época de relevo na produção nacional de mobiliário, o grupo de peças da Casa-Museu é representativo da excelente qualidade estética e técnica atingida neste período, o qual tantas vezes cruza a madeira exótica chegada do Brasil com o gosto nacional da madeira entalhada, agora pouco profunda e seguindo padrões estéticos rococó em que as formas se contraem, desaparecendo o excesso de volumes e ondulações acentuadas. Esta evolução do gosto no mobiliário não surge isolado, integra um contexto artístico que agrega a representação no azulejo, na escultura, em particular a de madeira em talha dourada que em Portugal assumiu um papel de destaque, e, ainda, a escultura em pedra e a pintura. Por outro lado, as características formais das peças de mobiliário não estão isentas de influências francesas e inglesas, reflexo cultural, mas também de relações diplomáticas e económicas.
Dar a conhecer estes dois períodos de excelência na produção de mobiliário português através das peças do acervo da Casa-Museu Medeiros e Almeida é o objectivo desta comunicação.