Peças de mobiliário da rainha d. Maria II e do rei d. Fernando II da sua residência oficial no paço das Necessidades - do fragmento à peça
Sande Lemos, Teresa
Investigadora integrada no ARTIS – Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; Doutoranda em História da Arte, ramo Ciências do Património e Restauro com o tema As coleções de Mobiliário da rainha D. Maria II e do rei D. Fernando II do Palácio das Necessidades. Estuda a história do mobiliário português, nomeadamente mobiliário de coleções de arte do século XIX. Conservadora- restauradora na especialidade do mobiliário e das artes da madeira e leciona na mesma área. Lisboa, Portugal.
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Etiquetas/Tags: Realeza, Documentación escrita, Materiales, Siglo XIX, Relación mueble – espacio
A rainha D. Maria II (1819-1853) e o rei D. Fernando II (1816-1885) escolhem o Paço das Necessidades, em Lisboa, para sua residência oficial, depois de terem contraído matrimónio em 1836. Uma enorme campanha de obras tem início no Paço, em 1844, a fim de reformular e inovar os interiores com as tendências arquitetónicas que imperavam no século XIX. O arquiteto escolhido foi Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806- 1896) que altera o palácio setecentista segundo modernas regras de protocolo, de conforto e de intimidade familiar.
O gosto de cada um dos monarcas estava espelhado nas coleções de mobiliário que preenchiam os vários ambientes decorativos das diversas dependências do Paço. Foram vários os artistas e artificies que trabalharam durante os anos de casamento do casal real para embelezar os interiores da
residência.
Através da documentação consultada verificámos a existência de uma diversidade de espécies de madeira e de outros materiais não lenhosos, designadamente marfim, osso, tartaruga, ligas metálicas, pedras semipreciosas, materiais pétreos, couro, têxteis, com a utilização de técnicas construtivas, de técnicas decorativas e de técnicas de acabamento nas várias tipologias existentes no Paço real.
Hoje não é fácil identificar e localizar muitas destas peças, devido a várias vicissitudes que ditaram a dispersão das coleções. Salientam-se a partilha de bens por morte dos monarcas e a entrada de muitas peças no mercado da arte; bem como a revolução republicana de 1910, em Portugal, a nacionalização dos bens da Casa Real; e uma profunda remodelação dos interiores dos antigos palácios, cujas peças foram, com frequência, transferidas entre edifícios, numa campanha de redecoração e musealização das antigas habitações reais, já durante o Estado Novo.
O presente estudo, ao mesmo tempo que pretende identificar e localizar alguns exemplares desta tipologia de mobiliário, irá tratar da conceção e execução destas peças, resultantes da conjugação de fragmentos de outros móveis que o casal real terá mandado executar seguindo uma tendência muito em voga na Europa e em particular na Grã- Bretanha de Oitocentos. A ligação familiar e a proximidade afetiva entre o casal real português e a Rainha Vitória e seu marido, o Príncipe Alberto, estimulavam uma partilha de gosto, fazendo-se esta
sentir em particular nas artes decorativas.